O espelho reflete a imagem embaçada do meu rosto repleto de lágrimas. Encaro-me novamente com nojo do que vejo. Respiro a enorme vontade de acabar com tudo aquilo; com toda aquela figura. Não sou o que vejo, então por que vejo? Sinto enorme necessidade de me liberar, mas como fazê-lo? Como fugir do que não se é? . Percebo que há uma lâmina no canto da pia. Geralmente, utilizo-a para cortar meu cabelo quando estou descontente com ele, mas agora não me alegro de nada que há externamente aqui. Não aceito. Não quero. Meus dedos tocam a lâmina devagar, sentindo cada parte gélida daquele metal. Sim? Não? Sim? Não? A pergunta fica rodando em minha volta. Fecho os olhos e a trago até minha face. Faço um pequeno corte da orelha ao nariz. Sinto arder, mas isto pouco me importa. Meus olhos se abrem e vejo o resultado refletido no espelho. “Até que não ficou tão mal”, penso. Pouco a pouco, feliz com o resultado, fui criando pequenos desenhos até ser impossível enxergar algo além de inúmeras gotas de sangue escorrendo.
Lentamente, dirigi aquele objeto afiado até meus braços e cortei do palmo da minha mão até o antebraço. Fiz o mesmo com o outro. Ardia. Ardia bastante, mas era bom.
Gradualmente, vi a luz forte se apagar. Fui sentando no chão, permitindo-me flutuar; fugir. Deixei-me ir. E fui. Fui sem pressa.