Me *-*

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sábado, 14 de janeiro de 2012

"Não havíamos marcado hora, não havíamos marcado lugar. E, na infinita possibilidade de lugares, na infinita possibilidade de tempos, nossos tempos e nossos lugares coincidiram. E deu-se o encontro"

Antes de mais anda, esse texto é uma junção de Ana Jácomo com Rubem Alves. Quando o li pela primeira vez, um pouco mais de um ano, era a tradução perfeita dos acontecimentos que estava vivendo. Depois que passamos por momentos que jamais apagaremos da nossa memória (o que a memória ama, fica eterno, já dizia Adélia Prado), a vida se torna um amanhecer lindo de novas possibilidades, de novos encontros e reencontros. O que dizer àqueles que nos fizeram tão bem? Tão felizes? Que são únicos... e inesquecíveis....

"Eu não havia marcado hora pra viver aquele instante. Não estava anotado na agenda da minha expectativa. Não utilizei o tempo dos olhos na direção de calendários e relógios por aguardá-lo. Não me preparei para recebê-lo. Aconteceu de repente, feito chuva derramada de improviso, sem que o céu revele antecipadamente o seu desejo em alto e bom som. Quando percebi, eu estava lá e tudo era perfeito. Quando percebi, eu era aquele instante e ser aquele instante era contemplar a nítida e rica paisagem que me convidava a experimentar. Era me sentir viva e isso é uma felicidade imensa. Pode haver algo mais estranho do que um ser vivo se apoderar da própria vivacidade apenas de vez em quando, somente em circunstâncias chamadas de especiais? Costumamos fazer isso.
Durante alguns segundos, parei o que estava fazendo para fotografar com o sentimento o repentino contato com uma felicidade refletida também no ambiente, mas que começava em mim, eu tinha certeza... Era porque estava feliz que as coisas que me rodeavam se mostravam felizes. Cada uma com o seu jeito de dizer a alegria. Cada uma com o seu modo de me espelhar. Se outra pessoa, fora daquela freqüência de contentamento, chegasse ali naquele instante, é provável que não visse coisa alguma que justificasse a minha emoção. A mágica começa no mágico, não naquilo que ele toca. Os olhos nos falam do que o coração vê, não tem outra maneira.
Muitas vezes esperamos viver momentos felizes com ares de solenidade, como se existisse todo um cerimonial a ser cumprido para sermos merecedores de experimentá-los. Não é bem assim que parece funcionar. Na minha vida ela sempre apareceu as cinco da tarde num dia chuvoso, ou a uma da manhã de um dia de verão. A felicidade precisa estar onde nós estamos, não importa quantos sonhos ainda temos para passar a limpo com as nossas ações. Não importa o tanto de realizações que ainda podemos concretizar. Naquele instante, naquele lá que eu vivi, eu nem estava pensando na felicidade. Estava distraída, conversando, quase indo embora... Era isso. Só isso. Tudo isso. E quando eu percebi, eu era feliz. Naquele instante, ri como uma criança faz ao saborear a delícia da própria travessura. Ser feliz é a melhor arte que podemos nos flagrar aprontando. Descobri com você que a felicidade mora nas coisas mais simples do mundo. Essas aqui, bem próximas do nosso alcance, agora. Você se foi, mas me deixou esse ensinamento lindo que vou levar na vida... para a vida... para sempre.
As nossas horas e lugares bateram um dia, dizem que isso se chama “coincidência” – quando encontros acontecem acidentalmente, sem ter sido preparados. De fato, foi um acidente. Dizem alguns, entre eles Jung, se não me engano, que “coincidências” não existem. Coincidências, eles dizem, só são coincidências quando vistas na face direita do tapete. Mas, se pudéssemos olhar o avesso, encontraríamos os fios do destino que fizeram aquele encontro inevitável.  Não havíamos marcado hora, não havíamos marcado lugar. E, na infinita possibilidade de lugares, na infinita possibilidade de tempos, nossos tempos e nossos lugares coincidiram. E deu-se o encontro."

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