- Mais uma vez me encontro aqui, tentando fingir que está tudo bem, tentando mostrar para os outros que segui em frente; ainda estou andando. Vocês me olham parado, mas eu nego. Estou caminhando, não veem? . Prendo-me a qualquer besteira de uma forma extremamente sólida para nunca mais conseguir me soltar, ou pelo menos achar que isso nunca irá acontecer. Furto-me de mim mesmo para sumir, para dizer que alguém, em suas intenções mais idílicas, sumiu comigo por me querer, por me desejar, por me almejar. Escondo-me de você para que não veja as gotas translúcidas que escorregam pelo meu rosto gritando o quanto permaneço, o quanto ainda não fui.
Quero ir, preciso ir, não consigo ir. Minhas pernas foram incapacitadas de andar, sabe-se lá por quê. Não consigo me enxergar no espelho. Vejo apenas uma alma vazia. Transparente com alguns traços de tristeza quase visíveis. Aflição é a única coisa aparente, mas ainda sim em pouca quantidade. Nada é concreto em mim. Apenas sinto, fracamente, milhares de partículas de dor que imploram por descanso, mas quem sou eu para entregar isso a eles? Não tenho descanso. Não se dá o que não se tem.
O que diabos você fez comigo? Em que inferno fui parar? O que fiz de tão ruim para nem Deus, que é o todo piedoso, ter misericórdia de mim? Eu perdi tudo que tinha, mesmo nunca tendo nada. Mas eu me tinha. Eu me tinha até você aparecer. Você, que nunca me enxergou. Você, que nunca me procurou. Você, que nunca me teve, mesmo me tendo todo para si. Jogou-me numa selva. Sozinho. Perdi tudo que tinha e não tinha nada. Nunca fui nada. Agora sou menos ainda. Sou um número negativo no meio de tantos positivos. Sou algo incolor centralizado no meio do arco-íris. Sou um nada no meio de tudo. Sou o que você deixou pra trás sem se importar por achar que não era realmente alguma coisa, pois no teu tudo nunca houve espaço para meu nada.
Não sei por que ainda considero importante que você me guarde na sua memória afetiva. Que troca de vibrações telepáticas é esta que idealizo como um elo entre nós dois, quando o natural seria eu pensar apenas em mim e você em você, desconectando os fios, desenovelando essa nossa história, mas ainda quero te conquistar, por isso te ignoro, não te xingo, não te chamo de filha da puta, um pouco porque ter deixado de me amar não faz de você um filho da puta, mas principalmente porque tenho medo de que se houver em você um resto de amor por mim, esse amor irá por água abaixo quando você me ouvir te caluniar, te insultar, então me mantenho educadamente afastado, porque é a única saída que me resta para continuar sendo gostado por você, que absurdo, esse meu falso refinamento ainda é uma forma patética de sedução Ú.Ú
Nenhum comentário:
Postar um comentário